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Previdentes com a previdência!!!🤞
Economia brasileira | 05/07/2019A reforma da previdência será aprovada sem mais sustos, para alívio de alguns e apreensão de muitos. Mas, de toda forma, a reforma não vai alterar muita coisa em nossas vidas nos próximos cinco anos e, de certa forma, ela já nasce caduca. Permitam-me explicar.
Inicialmente é consenso entre os economistas mais sérios e comprometidos que o problema do crescimento brasileiro é falta de investimento. O controle das contas públicas é importante, mas é assunto mais importante para o mercado financeiro. É o mercado financeiro que financia a dívida pública. Por isso seus maiores agentes – os bancos, as seguradoras, os fundos de investimento, os fundos de pensões públicos e privados – precisam de alguma previsão que o Estado brasileiro terá condição para pagar seus compromissos, particularmente os juros da dívida. Por isso a ansiedade dos governos em “agradar” os agentes do mercado financeiro, ou simplesmente, o mercado.
A dívida pública pode ser financiada também por arrecadação. Mas em períodos de crise, como o que estamos vivendo, a arrecadação tende a cair. Então, o governo não pode contar apenas com essa fonte de recursos, tem que emitir mais dívida.
A arrecadação cai porque os agentes econômicos estão com menos propensão ao gasto. As empresas não estão vendendo, nem investindo e tem um grande espaço para produzir mais sem ter que construir novas fábricas ou comprar novas máquinas. As famílias estão endividadas, sem emprego e estão comprando no limite do necessário.
O capitalismo é de gasto.
O problema é que o capitalismo é um sistema que premia o gasto. Quando há gasto, há crescimento. Pense nisso, sua receita sempre será o gasto de alguém.
Diante desse quadro, não é a reforma da previdência que irá mudar o Brasil até o final do ano. Aliás, já é consenso também que a economia em 2019 não irá crescer mais que 05% – 0,8%.
Outro ponto é que essa reforma já nasce caduca. Explico. O atual sistema de aposentadoria é o chamado de “sistema de repartição simples”, ou seja, quem está trabalhando hoje no mercado formal, portanto, com carteira assinada, está contribuindo para o pagamento da aposentadoria de alguém.
Esse é um pacto social firmado entre gerações. O problema está exatamente aí. O sistema funciona bem quando a estrutura do emprego é primordialmente com carteira assinada. Mas com a reforma trabalhista de 2018 e a mudança tecnológica pela qual a economia está passando, a estrutura do emprego já não é primordialmente com carteira assinada. Mas, está migrando para ocupações por conta própria. As novas gerações estão trabalhando cada vez menos com carteira assinada. Hoje, por exemplo, já temos a figura do estagiário sênior.
Pois é, um quadro que exige reflexões, para dizer o mínimo.
O trabalho do futuro.
O trabalho por conta própria é uma tendência mundial, muitos casos são profissionais liberais bem-sucedidos, mas o grande contingente de trabalhadores vive na Gig economy. A economia dos bicos, o trabalho de meio período, o free lancer. Muitas vezes trabalham menos de 40 horas semanais e recebem salário/hora menor que média daquele setor de atividades. No caso brasileiro, o número de jovens entre 18 – 30 anos desempregados supera o número de profissionais mais experientes.
Ou seja, a população jovem que está entrando (ou não) no mercado de trabalho, não contribui direta e continuamente para o sistema de repartição, o que no futuro próximo pode fazer com que o “rombo” da previdência continue.
Como resolver isso?
Com bons empregos e boas atividades econômicas. Atividades que não sejam serviços simples e com pouco valor agregado, como cabelereiros, eletricistas, guias de turismo, atendentes de hotel, comerciários, motoristas de Uber, ou todas as atividades que exija o trabalho diário maior que 8h, 5 dias por semana, para se receber ao menos 4 salários mínimos de referência.
Bons empregos requerem mais indústrias, mais serviços técnicos especializados, mais tecnologia da informação, mais matemática, mais estatística, mais tudo o que atualmente não temos disponível no Brasil. E o que nos deixa mais triste é que pelo andar da carruagem não teremos isso nem tão cedo.
Insisto, sem políticas públicas ativas e sem estratégias de nação não iremos muito longe. Iremos sempre patinar e ter que nos contentar com ganhos incrementais e buscar soluções para problemas do passado, como é o caso da reforma da previdência.
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